-
Minha linda, que saudades!
A
mulher se vira e sorri falsamente:
-
Também senti sua falta, meu moreno.
Ele
arrisca outro beijo, mas ela se vira.
- O
que foi, querida?
-
Trouxe o que eu pedi?
- Mas
é claro que eu trouxe!
A
puta despe o hobby transparente que estava vestindo e estica a mão para o
cliente.
-
Posso ver? – animou-se.
-
Feche os olhos!
Ela
fechou. O advogado tirou do bolso um pequeno porta-joias de veludo e colocou na
mão da moça.
- Um
anel de brilhantes, querida! – exclamou ele.
- Um?
- Por
que o espanto, meu amor?
- E o
seu anel, onde está?
- E
eu lá sou homem de usar anel de brilhantes! – irritou-se.
A
puta deu as costas, virando-se para o espelho. Colocou novamente o hobby
transparente.
- Eu
esperava dois – ela confessou – deveríamos usar como alianças! Como prova de
que somos um do outro.
-
Está bem, Vera. Vou comprar-me outro anel! – sentou na cama e deu duas
palmadinhas do colchão, convidando-a – Agora venha aqui que eu vou te amar
toda!
Ela
tira novamente a roupa transparente. Senta, empina o nariz, e permite ser
beijada no pescoço. Mas logo suspira e se levanta novamente.
-
Quando estivermos os dois, devidamente compromissados, só me faltará um favor
para que eu seja realmente tua!
Ele
assusta:
-
Mais um favor? Meu?
-
Sim, teu. Promete que me faz?
-
Sim, Vera. Tudo o que quiser!
A
puta explica:
- A
Beth, minha amiga, disse ter levado uma bolada na justiça depois que o advogado
dela mostrou-lhe seus direitos. Nem precisou mais trabalhar!
- E
eu, onde entro na história?
-
Você também é advogado. Quero que me mostre os meus direitos. Na justiça!
- Mas
você é...
Ela
interrompeu:
- Sou
trabalhadora!
-
Quer direitos trabalhistas?
-
Sim. Trabalhistas! – exclamou a mulher, toda pintada e esperançosa. Completou –
Quando conseguir meus direitos, podemos morar juntos, quem sabe no litoral!
Ela
se senta novamente na cama. O advogado tira o paletó, a gravata e desabotoa a
camisa. Ela observa-o, esperando uma resposta mais conveniente. Ele promete:
-
Sabe que eu posso te conseguir isso mesmo?
- No
duro?
-
Sim. Pensando melhor, você tem vários direitos. Como trabalha à noite, pode
exigir adicional noturno. E toda vez que ficar até mais tarde, trepando feito
uma louca, adquire direito às horas extras. Quando o cliente é caminhoneiro,
bicheiro ou drogado, pode pleitear adicional penosidade, sem falar nos adicionais
de insalubridade e periculosidade, quando o local for muito sujo ou o cliente
estiver armado. Vai do risco do programa! Vou conseguir anotar a sua carteira
de trabalho!
Ela
se exalta e beija o homem. Fica radiante. Exclama:
- É
tão bom saber que alguém reconhece o meu serviço!
- E
como! – ele ri de lado.
O
advogado avança com a mão até os seios dela. Tenta apalpá-la, mas ela resiste:
-
Hoje não estou bem. Podemos conversar antes?
-
Mais?
- Você gosta ou não de mim?
-
Gosto, Vera. Claro que gosto!
Ela
começa:
- O
povo pensa que, porque sou puta, sou maluca – a bem da verdade que nunca
reclamei muito do que faço. No começo, até gostava. Conseguia tirar um bom
trocado, escolhia só empresário e mauricinho. O problema é que o nível do bordel
caiu um pouco. Apareceram uns tipos estranhos por aqui. Teve um que me pediu
pra vestir roupa de homem enquanto ele desabafava suas queixas. Chegam também
uns tipos sujos, violentos, que me pedem para fazer umas posições estranhas.
Minha cama vira um circo! Esses dias tive câimbra no meio da transa. Não tive
como explicar pro coitado o que estava acontecendo, ele era surdo e mudo,
pensou que eu estava me contorcendo de tesão. É complicado. O dono do ponto
também anda dando preferência para as mocinhas mais novas, e o pior é que as
coitadas nem conseguem fazer um bom programa. Semana passada escorreguei no box
do chuveiro, caí no chão molhado; minha bunda ficou toda roxa, e todo mundo viu
quando dancei no pole dance.
Foi a primeira vez que me vaiaram. Cansei de fingir orgasmo. Como eu te disse,
não é porque sou puta que sou louca. Na verdade, sou bem tradicional – gosto de
papai-mamãe e juras de amor ao pé do ouvido!
O
advogado escutou a confissão assustado, de olhos arregalados. Viu que a
prostituta não fazia o seu tipo. Pensou consigo mesmo:
-
Puta que quer ter seus direitos eu até aceito, mas nunca vi nenhuma dizer que
prefere papai-mamãe!
Levantou-se,
bateu a porta do prostíbulo, e foi embora.