quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sobre a fragilidade de Deus e a criação do mundo - Capítulo 2


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Tudo crescia na Terra de maneira auto organizável, cada coisa em seu lugar. Deus delimitou seu espaço no planeta, estipulando também a cada ser o seu próprio sítio. Pensou num belo jardim farpado que assegurasse seu próprio deleite e o mesmo deu-se vida. Ocupava-se do ofício de pensar e inventar e descobrir. Passou a dominar as dádivas celestes e crescia em grande escala divina a partir de cada passo. Ainda que detivesse seu próprio jardim, o mundo era todo seu, o que não fazia-o restringir a um mero cercado florestal sua determinante atuação. Terminou por criar os outros animais, que de igual zelo fez de companhia para os humanos, aqueles a quem criava com carinho estimado. Era um reino, como o daquele que pensava ser seu pai. A partir de atos reiterados e inesgotáveis levou a cabo um bom par de criações, considerando as dádivas que detinha na ponta dos dedos. Ocorre que tudo na vida é contrapeso e em quase tudo há pesar. Ainda que tivesse o controle quase absoluto sobre a criação dos corpos, cada criatura era, desde que nascida, irrenunciável – exceto pela extinção total da espécie, saída que não lhe era das mais aprazíveis. Dos seus anjos fez servos livres, criaturas divinas com consciência e pensamento, e a quem dividiu em classes distintas de acordo com as ocupações necessárias. Como em toda sociedade é necessário determinar as castas e dizer, sem medo de soberania, “cada um no seu lugar”. Sejamos felizes, pensou Deus, e com aparência de boa gente deu seguimento à vida.

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