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Tudo
crescia na Terra de maneira auto organizável, cada coisa em seu lugar. Deus
delimitou seu espaço no planeta, estipulando também a cada ser o seu próprio
sítio. Pensou num belo jardim farpado que assegurasse seu próprio deleite e o
mesmo deu-se vida. Ocupava-se do ofício de pensar e inventar e descobrir.
Passou a dominar as dádivas celestes e crescia em grande escala divina a partir
de cada passo. Ainda que detivesse seu próprio jardim, o mundo era todo seu, o
que não fazia-o restringir a um mero cercado florestal sua determinante
atuação. Terminou por criar os outros animais, que de igual zelo fez de
companhia para os humanos, aqueles a quem criava com carinho estimado. Era um
reino, como o daquele que pensava ser seu pai. A partir de atos reiterados e
inesgotáveis levou a cabo um bom par de criações, considerando as dádivas que
detinha na ponta dos dedos. Ocorre que tudo na vida é contrapeso e em quase
tudo há pesar. Ainda que tivesse o controle quase absoluto sobre a criação dos
corpos, cada criatura era, desde que nascida, irrenunciável – exceto pela
extinção total da espécie, saída que não lhe era das mais aprazíveis. Dos seus
anjos fez servos livres, criaturas divinas com consciência e pensamento, e a quem
dividiu em classes distintas de acordo com as ocupações necessárias. Como em
toda sociedade é necessário determinar as castas e dizer, sem medo de
soberania, “cada um no seu lugar”. Sejamos felizes, pensou Deus, e com
aparência de boa gente deu seguimento à vida.
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