segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O homem que não queria vender




Das estranhezas do cotidiano, essa foi uma das grandes.

Depois de ler as notícias sobre o vinho ‘Toro Loco’ (espanhol), premiado pelo International Wine & Spirits Competition, saí correndo atrás de uma garrafa. O motivo é o preço: 4 euros, equivalente a 12 reais (lá). A notícia repercutiu, todos foram atrás do vinho que (supostamente) teria desbancado garrafas com cifras muito mais altas.

Rodei toda Pouso Alegre e nada de encontrar. Supermercados, armazéns, e nem o focinho do Toro Loco apareceu. Desisti de procurar.

Eis que passando torto e distraído frente a um empório, olho para a vitrine e dou de cara com ele, o próprio Toro Loco, como na imagem da internet, como tudo nessa vida que só nos aparece quando abandonamos as esperas.

Entro no recinto, dirijo-me até o vinho, saco a garrafa e digo – vou levar!
O dono da loja me responde – Não vai!

É claro que eu não entendi. Pensei que fosse brincadeira, mas o senhor falou sério. Percebendo o meu espanto, ele se justificou (de uma maneira que não explicasse muita coisa). Disse-me que não tinha nada com aquilo, mas que eu não gostaria do vinho, me desafiando a conseguir beber uma garrafa sozinho. Segundo ele, eu não conseguiria nem provar. Explicou que as notícias foram equivocadas, e que o vinho teria desbancado apenas os outros mais baratos da categoria, por isso foi bem sucedido. Não parou por aí, afirmando que o vinho é o mais vendido da sua loja, e que só nesse mês encomendou 60 caixas.

Um tanto incoerente, não?

Pensei comigo se seria a última garrafa e que quem sabe ele estava reservando o tinto para alguém especial, mas logo me virei e vi outras iguais na vitrine (!!!).

Insisti – Vou levar por curiosidade.
E ele – Deixa disso, com o preço desse vinho, você leva coisa melhor.

Pronto, o cara me convenceu. Eu já parecia cansado. Não levei o vinho dele, tampouco entendi sua insistência em resistir a venda. Eu disse que voltaria, quem sabe para comprar outra garrafa. Nisso ele concordou. O senhor explicou que é justamente o que queria, que eu voltasse à sua loja, pois se eu comprasse o tal Toro Loco, não iria voltar de raiva, porque o vinho é mesmo ruim.

Cada um é honesto de um jeito. Nunca vi vendedor não querendo vender. Quase o aconselhei a tirar as garrafas da vitrine. Agradeci a honestidade e fui embora. Com o dinheiro do vinho, comprei cerveja.

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Algumas notícias sobre ele:

http://culinaria.terra.com.br/receitas/bebidas/premiado-vinho-de-r-25-tem-300-mil-garrafas-vendidas-em-2-meses,14102d566b72a310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

http://www.sommelierwine.com.br/toro-loco-tempranillo-2011-chega-ao-brasil.html

http://basilico.uol.com.br/4564-artigos-R$-25-A-GARRAFA

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